“Saúde mental está ligada ao meio
ambiente de trabalho”, afirma Margarida Barreto
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https://www.anamatra.org.br/imprensa/noticias/19049-sa-de-mental-est-ligada-ao-meio-ambiente-de-trabalho-afirma-margarida-barreto018490288982624456
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"Médica do trabalho ministra palestra no último dia do Seminário Nacional
sobre Acidente do Trabalho e Saúde Ocupacional
A médica do trabalho e doutora em Psicologia Social pela
Pontifícia Universidade Católica de SP, Margarida Barreto, abriu os trabalhos
de hoje (15/08), último dia do Seminário Nacional sobre Acidente do Trabalho e
Saúde Ocupacional. A palestra teve como tema “Doenças Psicológicas – causas e
conseqüências” e Margarita Barreto foi apresentada pelo presidente da
Associação Brasileira de Advogados Trabalhistas (Abrat) Luiz Salvador.
A palestrante iniciou sua apresentação falando do problema do conceito
da saúde mental, que segundo ela pode trazer conseqüências positivas ou
negativas, essas últimas freqüentemente ligadas ao stress. “A saúde mental pode
ser pensada com um estado de bem-estar social”, afirmou, lembrando que ela pode
ser geradora de efeitos negativos como tristeza, desânimo, raiva, mágoas e
insatisfações, que podem acontecer nas relações laborais e no meio ambiente de
trabalho.”
Para Margarida Barreto, o estado mental do trabalhador está diretamente
ligado ao ambiente de trabalho e não apenas às relações interpessoais, ambiente
que pode ser determinante para a saúde enquanto prazer ou sofrimento. “Nesse
contexto, as doenças psicológicas constituem alterações do funcionamento da
mente, interferindo na capacidade cognitiva e afetiva do trabalhador”,
explicou. Segundo ela, o trabalhador emprega sempre pouco ou muito de sua
fisiologia, cognitivo e emocional. “Não existe um tipo de função em que esses
três aspectos não estejam relacionados”.
Segundo a médica do trabalho, as conseqüências das doenças psicológicas
ocasionadas pelo ambiente de trabalho influenciam inclusive na vida em família,
e na compreensão que o trabalhador faz de si e do outro. “Aí temos a
intensificação da autocrítica, a diminuição do prazer de viver ao lado dos
outros; causando o chamado transtorno mental, que está relacionado a fatores
endógenos, mas também externos”, afirmou, exemplificando que essa violência
física, moral e psicológica pode causar uma incapacidade prolongada de alto
custo para a sociedade.
Margarida Barreto afirmou que os quadros evolutivos das doenças
psicológicas do trabalhador podem resultar em stress, depressão, síndrome do
pânico, idéias suicidas e até o próprio suicídio. Como exemplo disso a
palestrante trouxe os números da Organização Mundial de Saúde, que apontam que
os transtornos mentais são o maior fator de risco para o suicídio, e a
depressão é a principal causa. A depressão representa 9% da mortalidade
mundial, ou seja, mais de 5 milhões de mortes por ano em nosso planeta. São
atualmente 450 milhões de pessoas que sofrem de transtorno mental, sendo 121
milhões de depressão e 51 milhões de epilepsia. “Estamos diante de uma situação
preocupante, pois a cada ano acontecem milhões de suicídios em nosso planeta”,
afirmou.
A palestrante falou também do problema da saúde pública brasileira,
direcionada aos transtornos psicológicos. Atualmente, apenas 2,6%¨do orçamento
do SUS é destinado para esse fim. “Está aquém daquilo que vem de fato ocorrendo
em nosso país”, analisou.
As causas do aumento das doenças psicológicas também foram analisadas
por Margarida Barreto. Segundo ela, a nova organização do trabalho, que alterou
a relação entre tempo e espaço, contribui para essa realidade tão preocupante.
“O cenário não é apenas produzido, mas induzido pelo mercado globalizado que
exige soluções rápidas e eficazes dos trabalhadores”. Para Barreto, a
exploração dos trabalhadores vem se intensificando nos últimos anos,
impulsionada pelas subcontratações, terceirizações, e a diminuição da relação
formal com o crescimento das pessoas jurídicas. Ao lado disso, novos eixos
tecnológicos, vem exigindo cada vez mais novos conhecimentos do trabalhador,
explica Barreto. “A empresa procura agora um novo tipo de trabalhador, não só
com conhecimento, habilidade; mas saúde perfeita, excelência, competência e
conhecimentos tecnológicos apurados. O saber-fazer transformou-se em
pré-requisito. Um saber-fazer formatado, que não dá espaço para a
criatividade”, afirmou.
Ao lado das exigências do mercado, de acordo com Margarida Barreto, está
o crescimento da cobiça da sociedade, com metas de riquezas materiais, que
possibilitem não só o reconhecimento social, mas um consumo ilimitado no
espectro da sociedade. “Os meios para se conseguir isso se tornam menos importantes.
A embalagem passa a ser quase tão ou até mais que o próprio produto. O
superficial pode adquirir o seu fator social dependendo do poder de sedução que
se mostre capaz de exercer”, afirmou.
A palestrante analisa que as novas formas de gestão do trabalho têm
tornado os trabalhadores vulneráveis ao desemprego, aos baixos salários, à
precarização, à competição acirrada, à degradação do meio ambiente do trabalho.
Problemas esses que favorecem a violência dentro do ambiente do trabalho.
“Estamos diante de uma guerra invisível em nosso ambiente de trabalho, onde o
homicídio já se converteu na principal causa de morte”. Para Margarida Barreto,
essa onda de violência é resultado de um a política hegemônica e neoliberal.
“Temos as variáveis da competição, da hierarquia supervalorizada, dos estágios
mal definidos... E ao lado disso os atos discriminatórios também relacionados
ao estado de saúde mental do trabalhador”.
“Nosso desejo como médica e que escuta todos os dias a história de
descaso contra a vida é que todos vivam bem. Vivam bem não às custas de
subnotificações e demissões por adoecimento. Será mais digno agüentar as
desgraças da vida ou guerrear contra os problemas no ambiente de trabalho?”,
questionou a palestrante, que terminou com trecho de documento da Organização
Mundial de Saúde: “A saúde mental depende certa medida da justiça social, e o
trabalho preventivo deve ser feito antes da fase de conflito.”
Para saber mais sobre o trabalho da Dra. Margarida Barreto, acesse www.assediomoral.org E-mail
para correio@assediomoral.org.
Confira a programação completa do evento no site www.seminariosacional.adv.br
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