quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

"A ARTE DA CELEBRAÇÃO " Feliz 2011.

Desejamos a todos nossos clientes, amigos um ano de saúde, paz, amor, sucesso e inteligencia. Andréa Cristina Ferrari e equipe.

LYA LUFT – A ARTE DA CELEBRAÇÃO
A passagem de ano não deveria pedir projetos (e posteriores remorsos), mais projetos (e mais futuros arrependimentos), e sim abrir a portinhola de algum alívio,


alguma alegria. Mas talvez a gente goste de sofrer. Lembrei-me agora da deliciosa historinha do monge muito velho, quase centenário, que num remoto mosteiro pede


a um monge bem moço que o ajude ainda uma vez a ir à biblioteca que guarda preciosos alfarrábios. Pela última vez, ele quer folhear uma enciclopédia ou encíclica


papal, algo assim — a princípio, o moço não entende direito. O jovem monge instala, então, o velhíssimo velhinho junto a uma mesa imensa, tudo lá é muito grande


e muito antigo. Mesa de carvalho, claro. É um aposento secreto no fundo da biblioteca, onde só os monges iniciados entram. O rapaz consegue o livrão, coloca-o na


mesa diante do velhíssimo velhinho e sai, dizendo: “Qualquer coisa, toque essa sineta que eu venho acudi-lo”.
Passa-se o tempo, o jovem monge se distrai com seus afazeres, até que se lembra: e o ancião, como estará? Preocupa-se com o longo silêncio — será que ele
morreu?
Corre até o fundo da biblioteca, até a sala secreta, e encontra o velho monge batendo repetidamente a cabeça no tampo da mesa.
— Mestre, o que houve? O senhor vai se machucar!
O monge centenário chora e repete certas palavras que o moço custa a entender:
— Imagine, imagine! A palavra de ordem, a recomendação, a essência, não era celibate, mas celebrate!
Logicamente, em inglês a coisa tem mais graça, mas mesmo quem lê aqui há de entender: desperdiçamos tempo, vida e energia sofrendo por bobagens, arruinando


as alegrias, ignorando afetos, trabalhando mais do que seria necessário para a nossa dignidade, curtindo mais o negativo do que o positivo, quando afinal a ordem


divina metafórica é que não precisamos fazer o sacrifício do celibato, mas celebrar a vida. Pessoalmente, sempre acreditei que a melhor homenagem que se faz a uma


divindade, se nela acreditamos, é celebrar — respeitando, amando, curtindo, cuidando — a vida, a natureza, a arte, o enigma de tudo.
Mas nós, humanos, nem sempre espertos (embora a gente se ache, e muito), em vez de celebrar a passagem de ano, passamos boa parte dela nos enrolando. As providências


excessivas, as compras, as comidas, as dívidas em dezenas de prestações... Os planos. Mas para que planos, quando o melhor é ter um só? Ser mais feliz, mais alegre,


mais amoroso, mais honrado, mais pacífico. Mas a gente coloca aspectos prosaicos da vida acima de tudo: perder 10 quilos, tratar melhor a sogra, ser menos puxa-saco


da sogra, da cunhada, da nora, do patrão. Ganhar mais dinheiro, o que nem sempre representa a conquista da felicidade ou algo que o valha, e por aí vai.
Para um lado ou outro, para o sim ou para o não, nessa hora nos enchemos de preocupações, acumulamos propósitos, e nos amarguramos porque quase todos aqueles


objetivos elencados na passagem do ano passado não foram cumpridos (e ainda por cima a gente sabia que ia ser assim).
E daí? E daí que poderíamos aproveitar o momento para pensar no que realmente vale a pena. E o que vale a pena, não importam a biografia ou a latitude, é
celebrar.
Para tanto, basta que sejamos, em casa, no trabalho e na escola, um pouquinho mais agradáveis e menos tensos. E que, pelo menos, isso se manifeste na forma de um


abraço vindo do fundo mais fundo do mais cansado — mas ainda amoroso e celebrante — coração.

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